Na semana que passou participei numa formação avançada de MS Project. A formação foi dada pelo professor Alexandre Rodrigues, da PMO Consulting. Já participei noutras formações em gestão de projecto e já trabalhei com gestores de projecto com muita experiência. Fico feliz por esta formação me ter surpreendido pela positiva, o que é cada vez mais difícil. Recomendo!
Na formação comparar o que é comparável, mas que tenho visto pouca gente a fazê-lo de forma clara e ausenta de opinião: metodologias ágeis e as abordagem clássicas de gestão de projectos. O prof. Alexandre Rodrigues fez uma analogia não posso deixar de partilhar.
O modelos actuais da gestão de projecto, sejam clássicos (como o normativo do PMI) ou ágeis (como XP ou Scrum) assentam em quatro variáveis: âmbito, custo, tempo e qualidade. O âmbito diz o que é para fazer, o custo afirma quanto vai custar, o tempo serve para definir quando vai estar concluído e a qualidade garante o bom resultado do projecto (i.e. sem defeitos). A alteração de uma variável pode afectar as outras de formanão linear.
Numa abordagem clássica tenta-se controlar o âmbito, ajustando as outras variáveis de acordo como se pretende implementar esse mesmo âmbito. Em fase de proposta acorda-se (i.e. contractualiza-se) o valor das outras três variáveis, de acordo com uma estimativa de quanto vai custar, quando estará pronto e em com que nível de controlo de qualidade. Qualquer alteração ao âmbito requer uma alteração ao contracto. Ou seja, eu peço o orçamento a um pedreiro para me construir um muro de 1m de altura no quintal. O pedreiro diz quanto isso me vai custar, quando estará pronto e sobre que condições de supervisão. Posto isto firma-se o contracto. Se a meio de obra eu decidir que pretendo o muro com altura de 80cm, o pedreiro tem que verificar o impacto que isso tem na obra em curso e apresentar um novo orçamento. Por outro lado, se a obra se atrazar, custar mais que o previsto ou forem feitas menos ispecções (i.e. pode ter mais defeitos), o custo adicional fica a cargo do pedreiro. Pode também acabar a obra mais cedo e assim fica com mais tempo para dedicar a outras obras. Pela perspectiva das metodologias clássicas, o âmbito é fixo e o tempo vai encolhendo ou esticando conforme a execução da obra vai correndo mais depressa ou mais devagar que o esperado. Ou seja, o âmbito pode ser visto como uma caixa onde se coloca ou tira tempo.
As metodologias ágeis assentam na ideia de que o âmbito global do projecto não está fixo. Ou seja, há uma ideia inicial do que é para fazer mas assume-se que a tarefa vá sendo alterada com o decorrer do projecto. Para lidar com este problema o projecto é executado com base em iterações (i.e. sprints em eXtreme Programming). No inicio da iteração define-se um conjunto de tarefas a executar, mas estas vão alterando conforme a iteração vai correndo. Se corre melhor colocam-se mais tarefas, se pior tiram-se as de menor impacto nas regras de negócio. Pode-se até substituir tarefas se o representante do negócio assim o entender. Por exemplo, imagine-se que eu queria à mesma fazer um muro de 1m no perímetro do quintal. Eu acordava com o pedreiro uma primeira iteração em que este iria tentar completar o muro. Se a meio da iteração eu desejasse colocar uma porta de ferro em vez de uma de madeira, o pedreiro não se iria importar, mesmo que isso implicasse tirar a porta que acabou de colocar. Por outro lado, se durante a iteração o pedreiro concluísse que estava a meter menos tijolos por dia do que os inicialmente estimados (i.e. à partes do muro que passam para a próxima iterarão), eu não me importaria e aceitaria o erro na estimativa sem exigir uma alteração contractual. Seguindo a analogia da caixa, na perspectiva das metodologias ágeis o tempo é fixo e o âmbito vai encolhendo ou esticando, conforme a execução da obra vai correndo mais depressa ou mais devagar que o esperado. Ou seja, o tempo pode ser visto como uma caixa onde se coloca ou âmbito.
Há uma diferença entre as abordagens clássicas e ágeis que eu já tinha percebido. Enquanto nas abordagens clássica assume-se que o contracto assenta num projecto a custo fixo, nas abordagens ágeis assume-se um contracto a Time and Materials (não sei traduzir isto). Mas esta analogia da caixa parece-me genial. Apresenta uma nova perspectiva sobre as duas abordagens. Só por isto já valeu a formação... mas valeu também pelo resto do programa.
Abraços,
Tiago Franco
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22.3.09
1.3.09
Duas caracteristicas de uma boa gestão de projecto
Na semana que passou estudei um projecto bem sucedido. Nesta actividade apercebei-me de duas características que contribuíram para o seu sucesso. São características óbvias, mas é muito comum apanhar projectos que não as tenham.
1 - Focar as pessoas chave no projecto
Os gestores técnicos e lideres de equipa do projecto estavam apenas destacados a tarefas do projecto. Ou seja, não participavam noutros projectos ou em tarefas organizacionais que não fossem relevantes para o mesmo. Com isto eliminou-se o custo e o risco associado a alterações constantes de contexto. Isto é principalmente relevante em projectos dito estratégicos.
2 - Tratar o processo de entrega como um item do projecto
Para quem faz software, o processo comum de entrega das aplicações ao cliente é feito com recurso a uma aplicação responsável pela instalação da aplicação final. Ou seja, o processo de instalação de uma aplicação é executado por outra aplicação (confuso!). Neste projecto a aplicação de instalação foi gerida como sendo um componente do projecto. Ou seja, foi sujeita a todos os processos de verificação e validação a que todos os outros componentes foram sujeitos. Foi desenhada, testada e introduzida no processo de compilação continua (vide continuous build). Resultado: eliminaram-se as surpresas e o panico geralmente associado a entregas, mesmo quando se faz integração continua.
Com disse inicialmente, estas são caracteristicas obvias. No entanto vale a pena frisar o que um dia ouvi de um executivo, à volta de uma mesa do café: "É compensador falar sobre o óbvio". É pois! Arruma as ideias.
Abraços,
Tiago Franco
1 - Focar as pessoas chave no projecto
Os gestores técnicos e lideres de equipa do projecto estavam apenas destacados a tarefas do projecto. Ou seja, não participavam noutros projectos ou em tarefas organizacionais que não fossem relevantes para o mesmo. Com isto eliminou-se o custo e o risco associado a alterações constantes de contexto. Isto é principalmente relevante em projectos dito estratégicos.
2 - Tratar o processo de entrega como um item do projecto
Para quem faz software, o processo comum de entrega das aplicações ao cliente é feito com recurso a uma aplicação responsável pela instalação da aplicação final. Ou seja, o processo de instalação de uma aplicação é executado por outra aplicação (confuso!). Neste projecto a aplicação de instalação foi gerida como sendo um componente do projecto. Ou seja, foi sujeita a todos os processos de verificação e validação a que todos os outros componentes foram sujeitos. Foi desenhada, testada e introduzida no processo de compilação continua (vide continuous build). Resultado: eliminaram-se as surpresas e o panico geralmente associado a entregas, mesmo quando se faz integração continua.
Com disse inicialmente, estas são caracteristicas obvias. No entanto vale a pena frisar o que um dia ouvi de um executivo, à volta de uma mesa do café: "É compensador falar sobre o óbvio". É pois! Arruma as ideias.
Abraços,
Tiago Franco
Acerca de mim
- Tiago Franco
- CEO, cosmopolita e com gosto pelo mercado de capitais. Sonha um dia viver em hotéis de 5 estrelas, mas ainda não descobriu como lá chegar. Tem um blogue com um 'look' giro mas comum, onde publica artigos de utilidade duvidosa.